Freud, inconveniente: todo mundo tem algo de aberrante e perverso

Freud, inconveniente: todo mundo tem algo de aberrante e perverso

Neste longo texto, Freud escreve três ensaios investigando a sexualidade humana, sendo o primeiro “As aberrações sexuais”, o segundo “A sexualidade infantil” e o terceiro “As transformações da puberdade”.

É Para refutar com argumento e pesquisa as certezas da sociedade de sua época,  que Freud escreve seu primeiro ensaio falando sobre a homossexualidade e as perversões, tidas como “aberrações sexuais” tanto para a ciência quanto para a sociedade de sua época, daí o título pejorativo e patologizante desta parte do texto.

O autor irá argumentar que a sexualidade humana é muito peculiar e diferente da dos outros animais, já que não estaria colada ao instinto biológico (por isso iremos chamar aqui a sexualidade humana de pulsional, como algo da ordem da pulsão), o que a torna muito mais plástica e diversa.

Freud defende o que poderia ser sintetizado assim: o sexual não é sinônimo de genital. Para a psicanálise, a sexualidade humana é ampla e diversa em relação a seu objeto de atração e a sua meta. Ela está para além e aquém dos genitais. Há, inclusive, uma sexualidade pré-genital (veremos melhor esse assunto quando chegarmos no segundo ensaio, sobre a sexualidade infantil).

Isso porque objeto sexual (pessoa ou objeto pelo qual sentimos atração) e meta sexual (ação a qual o instinto impele) nem sempre tem como meta a união dos genitais (a ação de fazer sexo, copular), ou seja, a relação entre o objeto sexual e sua meta não é estreita como no caso da fome instintiva, por exemplo. É uma relação onde existe algo frouxo, segundo o próprio Freud. Sintetizando: o objeto da sexualidade humana não é pré-determinado pela biologia. 

Segundo as observações do psicanalista, há um desvio na relação entre objeto e meta  na sexualidade humana. Tal desvio levou Freud a dizer que “há apenas entre instinto e objeto sexual uma soldagem […] somos levados a afrouxar a ligação entre os instintos”. A soldagem é aquilo que desafrouxa e liga duas partes que não estavam coladas naturalmente.

Partindo dessa tese, Freud começa a falar sobre a homossexualidade, mas sem se furtar a dizer que o interesse sexual exclusivo do homem pela mulher (heterossexualidade) também é “um problema que requer explicação”, sendo rigorosamente coerente com sua tese sobre as pulsões, sobre a não determinação biológica do objeto sexual na sexualidade humana! Ele não poderia negar o que observava, que a atração humana não é fundamentalmente química, nem fundamentalmente biológica, nem fundamentalmente genital… é por isso que ele afirma: “É provável que a pulsão* sexual seja, de início, independente de seu objeto, e talvez não deva sequer sua origem aos atrativos deste”. (pg. 38)

Em suas investigações sobre a homossexualidade e sobre as perversões, Freud “apenas” conclui que tanto a homossexualidade quanto as perversões estão ou estiveram presentes na vida sexual normal de qualquer pessoa, e que “a decisão sobre o comportamento sexual definitivo ocorre somente após a puberdade, sendo resultado de uma série de fatores ainda não apreendidos em conjunto, alguns de natureza constitucional, outros acidental”

Para a psicanálise, as perversões e os fetiches seriam parte da vida sexual de todo humano, hetero ou homossexual, não sendo necessariamente algo patológico. Algo só é patológico quando se manifesta com enrijecimento, que seria uma fixação única e exclusiva da pulsão em um determinado objeto, que tomaria conta da cena de maneira totalizante, reprimindo outros caminhos que levariam ao ato sexual genital em si.

O autor sabia que sua própria sociedade gostaria de segregar os assuntos que ele trata no tópico das aberrações (homossexualidade e perversões) aos doentes mentais, mas como investigador e, por quê não, cientista, ele é honesto, e afirma que “a experiência mostra que estes não têm distúrbios da pulsão sexual diferentes dos observados em pessoas normais, em raras e classes inteiras”.  Para Freud, então, as perversões são uma predisposição congênita e seriam absolutamente influenciáveis pela história de vida de cada um. 

Só com este primeiro ensaio o autor já dá seu “nocaute” na opinião popular de sua época, usando apenas seu espírito de pesquisador rigoroso, que não maquia os fatos nem enxerga motivos para fazê-lo…

Talvez o que haja de mais interessante e bonito nesta primeira parte do texto é justamente a diluição que Freud faz entre o normal e o patológico, mostrando, queiram ou não, que o limite entre o normal e o patológico não tem a  ver necessariamente com um comportamento desviante [da norma] em si. Para o psicanalista, o que importa é a relação do sujeito com esse comportamento, e se o mesmo assume proporções que tomam conta da vida do sujeito, reprimindo outras formas de obter satisfação. Nesse caso, segundo Freud, podemos falar em algo patológico. Um exemplo: me lembrei do vídeo sobre “acumuladores” feito pelo professor Christian Dunker em seu canal no YouTube, no qual o psicanalista nos lembra daquelas pessoas que acumulam coisas, lixos e objetos a ponto de não terem espaço na própria casa, os chamados “acumuladores compulsivos”. Isso é um exemplo de algo patológico, intenso demais. Mas a crítica mais relevante do vídeo está em questionar: mas o sujeito bilionário, não seria também um acumulador….  só que de dinheiro?  Ora, por quê esse acúmulo é aceito como “normal” pela nossa sociedade? Esse é um belo exemplo de como o estatuto do normal e do patológico podem ser questionáveis e estar a serviço da manutenção de certas lógicas e discursos presentes em nossa sociedade.

O próximo ensaio será sobre a sexualidade infantil.

*o tradutor escolheu traduzir a palavra trieb por instinto, mas preferimos traduzir como pulsão

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

Referências bibliográficas:

Freud, S.   (1901-1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros textos. Companhia das Letras.

Vídeo “Acumuladores”, do Christian Dunker:

Tudo é sexual para a psicanálise? Sobre o prazer e a satisfação humana.

Eis o texto escolhido para seguirmos nosso percurso sobre as ideias bases da Psicanálise é o (longo) texto de 1905 “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. Por que este texto é tão importante?

Há um grande mal entendido popular em relação a Freud e a psicanálise, do qual o próprio psicanalista se defendera em sua época, a saber, a ideia de que a psicanálise acharia que todos os problemas humanos são sexuais. Sim, mas não! Para a psicanálise, a sexualidade humana não tem a ver apenas com os genitais e a relação sexual. A sexualidade humana teria que ver com modos de obtenção prazer e satisfação na vida, muito além da genitalidade. E isso seria só seria possível porque nós, humanos, não seríamos regidos por instintos mas por pulsões. A consequência disso é a ampliação da relação do ser humano com o prazer (desprazer) e a satisfação (insatisfação), muito mais complexa do que o observado no mundo animal. Para quem quiser se adiantar, recomendamos a leitura do texto “As pulsões e seus destinos” (1915), que será o próximo texto “base” a ser trabalhado nessa série do abc do inconsciente.

Se falamos em prazer e satisfação, é porque eles estão diretamente ligados ao sofrimento humano. E o que Freud fez como psicanalista foi investigar o sofrimento (formas de sofrimento); de que formas o humano obtém prazer e satisfação na vida já que todo sofrimento interfere diretamente na fruição dessas sensações. Em busca destes, com quais barreiras e impedimentos ele irá se confrontar na sua relação com o mundo, com o outro, com a Lei, com a cultura?

Freud sabia que o conflito é uma característica da subjetividade humana, diferente dos animais, e interessava ao psicanalista analisar, em partes diversas, do que seriam feitos os conflitos humanos e quais seriam os tipos de negociação possíveis que cada um encontra para si e seus conflitos.

Foi num momento desse mesmo texto que o autor definirá a criança, o bebê, como um “perverso polimorfo”, escancarando a sexualidade infantil para a sociedade de sua época com a cara e a coragem de seu espírito científico, argumentando, com fatos, contra a opinião popular sobre a sexualidade infantil, fundada apenas em moralismos e pré-conceitos. Tudo isso ele o fez para dissociar a ideia de sexualidade da genitalidade, mostrando que a sexualidade ampliada da psicanálise se aproxima do Eros de Platão, pois diferente do instinto, que é inflexível e tem um objeto-direto, a pulsão não teria, o que abre uma gama de possibilidades nas formas de obtermos prazer e satisfação. Vamos ver como Freud relaciona a sexualidade com a constituição do ser humano e sua importância no surgimento das neuroses (ao menos para o Freud de 1905 e o que ele pensava naquele momento, é o que veremos).

Feita essa breve introdução e ressalvas, podemos começar nosso percurso pelo texto. Aguarde o próximo “ABC do Inconsciente” neste blog.

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

A transformação do sofrimento

Texto do filósofo e psicanalista Vladmir Safatle

Destaco aqui um trecho e deixo o link para o texto completo no final.

”Freud dissera uma vez que a cura analítica estava ligada à capacidade de amar e trabalhar. Em outro momento, mais inspirado, ele afirma que o objetivo de uma análise é “transformar a miséria neurótica em sofrimento comum”. Há de se ler as duas afirmações juntas, pois se separadas, a primeira se tornaria catastrófica. Amar e trabalhar a partir do que a sociedade capitalista entende por “amor” e “trabalho” é só empurrar sujeitos para formas de mutilação. Por isso, a segunda afirmação era importante. Ela lembrava que não se tratava de eliminar o sofrimento, porque não há sociedade que nos permita viver sem sofrimento, muito menos essa da qual fazemos parte. Imaginar que na sociedade que transforma todas as formas de ação em processo de valorização do valor, que faz até mesmo da intimidade e das redes de amizades novos espaços de produção de valor e de monetização, seria possível traçar vias singulares de atividade sem sofrimento, resistência e reação, eis algo que contraria até mesmo as leis da física.

Por isso, tratava-se de vincular a psicanálise a outra coisa, a saber, a transformação das formas de sofrimento. Sofrer de outra forma, sem que ele se esgote do teatro neurótico e suas formas de gozo e perpetuação. Pois há momentos em que o sofrimento psíquico se mostra como forma de revolta social, como a lembrança de que é melhor a doença à saúde que nos propõe. O que, para tanto, implica permitir a analisanda e o analisando tomar para si a enunciação de seu próprio sofrimento.”

Sexualidade Infantil

ABC do Inconsciente – Sexualidade infantil: um escândalo?

No texto “A questão da análise leiga”, Freud aborda com seu interlocutor o tema do reconhecimento da sexualidade infantil pela Psicanálise na sociedade européia do século XIX. A sexualidade infantil sempre foi do conhecimento de pediatras, babás, pais e mães, mas, segundo o autor, sempre fora tratada com rígida repressão e ignorância. Ele critica sua sociedade por se prender excessivamente a parâmetros sentimentais, religiosos e morais para tratar do assunto, que para o autor era apenas mais um objeto para a ciência, para conhecer mais o humano. Ele analisa esse apelo a sentimentos ao invés de argumentos como típicos de uma sociedade neurótica, aprisionada a ideais rígidos que a impedem de lidar com uma verdade pouco conveniente. É por isso que o autor afirma com segurança que:

“(…) não existe nenhuma beberagem, por mais absurda que ela seja, que a sociedade não engoliria de bom grado se ela fosse vendida como sendo um antídoto contra a temida supremacia da sexualidade” (p. 235)

Para nós, humanos, não basta apenas nascer, pois só sobrevivemos se existir alguém suficientemente dedicado aos nossos cuidados e a nossa sobrevivência – física e psíquica. Desde bebês até uma certa idade, somos constantemente tocados, manipulados por alguém, desde na mãozinha e na perninha até os genitais na hora do banho e da higiene. Vergonha, nojo e moralidade não existem nesse estágio.

Do que se trata a vida sexual infantil? Freud classificou a sexualidade infantil como perverso-polimorfa (no texto de 1905), afirmando que é normal e saudável que toda criança seja capaz de experimentar prazer de múltiplas formas, em diversas zonas do corpo e com diversos objetos. Pode parecer escandaloso, mas é porque nós, adultos, já temos uma outra visão do sexual.

Crianças são curiosas e estão começando a experienciar o mundo e o próprio corpo, antes mesmo de terem consciência de que possuem um corpo, antes mesmo de terem noção de que existe um eu e um outro. Tudo é sensação, satisfação-prazer ou insatisfação-desprazer. Ter um corpo é, portanto, estar vulnerável a experiências corpóreas, prazerosas e desprazerosas.

Com o tempo, já mais crescidinhas do que um bebê, é natural que crianças comecem a mexer e conhecer os próprios genitais (e reparar no dos adultos também). Nessa curiosidade, acabam estimulando o próprio genital e descobrindo que isso gera prazer (masturbação). Qualquer um que já tenha criado uma criança sabe disso. Tal atividade costuma ser tratada como “pecado” e tratado com rigidez mesmo nos dias atuais; para a criança, entretanto, masturbar-se é apenas algo divertido…

E não há só o prazer genital, mas também o oral (chupar o dedo, engolir, beijar, pôr objetos na boca) e o anal (fazer cocô, eliminar, reter).

Nossas primeiras vivências e sensações corporais serão o início da nossa experiência no mundo e na relação com Outro*. Aos poucos, também pela demanda e exemplo do Outro, vamos “organizando” nosso Eu e nosso corpo em determinadas funções de modo a corresponder às expectativas que o Outro tem sobre nós. É assim que vamos “aprendendo” a ter um corpo, o que devemos supostamente fazer com ele, quando e como! Isso inclui: xixi, cocô, masturbação, limpar o nariz… E brincar com cocô, pode? Freud nos lembra que, na criança, é necessário bastante tempo até que o asco (pelas próprias fezes, xixi, secreções) se instaure. Realmente, dá pra imaginar quão complexa é a operação psíquica de compreender que as fezes, ao mesmo tempo em são tão pedidas e até mesmo comemoradas pelos adultos (vamos, você tem que fazer cocô, filho!! eba!! você fez cocô), também são odiadas com nojo e repreendidas em outros momentos, e já não funcionam mais como um presente que agrada ao Outro.

Freud vai ainda mais longe em suas revelações, ao afirmar – apresentando fundamentos – que os primeiros desejos sexuais das crianças são incestuosos, pois estas direcionam seus desejos sexuais (dentro dos limites da imaginação infantil, que não sabe do ato sexual) para as pessoas mais próximas que lhe são aparentadas, de maneira geral mãe, pai e irmãos, sendo a mãe (ou quem estiver nesta função) o primeiro objeto de amor tanto da menina quanto do menino, e tipicamente a figura parental do mesmo sexo da criança seria tida com rival, pois ela quer uma relação exclusiva com seu objeto de amor, sem ninguém para atrapalhar. É comum crianças idealizarem seu objeto de amor, parecerem apaixonadas por sua mamãe ou papai, querendo-os todos para si. É essa a configuração da trama anímica do Complexo de Édipo.. Essa trama deverá ser abandonada e transformada, de modo que o agora adolescente possa direcionar seus interesses sexuais para fora da família, para o mundo externo. Esse tema não será aprofundado neste texto, sendo apenas mencionado por Freud como um dos representantes da sexualidade infantil.

Para fortalecer seus argumentos de que a proibição do incesto nunca foi algo inato na sociedade, o psicanalista usou como máxima a lenda grega de Édipo, e também se dirigiu à História, citando como exemplo Cleópatra (que se casou com seu próprio irmão, Ptolomeu). Relações amorosas entre pai e filha e mesmo entre mãe e filho também foram relatadas nos mitos de outros povos, não apenas os gregos. Freud é tão curioso quanto engraçado, e diz a seu interlocutor “tanto a cosmologia quanto a genealogia das dinastias reais são fundadas a partir do incesto. Com que intenção o senhor (interlocutor) acha que essas narrativas foram criadas? Para cunhar deuses e reis como criminosos e atrair para si a aversão da raça humana? É mais provável que seja porque os desejos incestuosos são uma herança humana dos primórdios e nunca foram superados totalmente, de modo que ainda se aceitava a sua realização para os deuses e seus descendentes, quando a maioria dos humanos comuns já tinha de renunciar a eles. Em tal consonancia com esses ensinamentos da Historia e da Mitologia, ainda hoje vemos o desejo incestuoso pesente e atuante na infancia do individuo” (p. 243)

Freud termina esta quinta parte do texto com uma excelente questão para nos provocar:

”Como se comportar diante da atividade sexual da primeira infância? Sabemos da responsabilidade que assumimos quando reprimimos essa atividade, mas ao mesmo tempo não temos coragem de deixá-la fluir ilimitadamente’’ (p. 247)

O que podemos dizer com base no que lemos até agora é: qualquer criança se masturba, desde muito cedo. A criança precisará de alguém para se adequar minimamente a sociedade e suas exigências. Tudo que aprendemos vem do Outro, dependemos de sua existência para nos constituir e obter nossas primeiras noções de mundo e padrões de comportamento. Alguém precisará promover condições para que a criança participe do laço social e ter noções básicas de adequação e inadequação social. Freud falará mais sobre as relações entre neurose e sexualidade nas próximas páginas. Por hora, fiquemos com isso!

Patrícia Andrade
Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

Bibliografia:

Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Obras Incompletas de Sigmund Freud;  Editora Autêntica. A questão da análise leiga, parte IV

Vocabulário de Psicanálise Laplanche e Pontalis. 2001, Martins Fontes.

Freud; Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, 1905. 

A gente costuma pensar o tempo como uma estação de trem. O presente como algo que assim chega e assim passa. Mas o presente, diria um filósofo chamado Bergson, é um “passado acumulado”. A gente pensa o futuro chegando no presente como se fosse uma estação de trem: olha lá o futuro!!! Uhhh, agora virou passado! Magicamente! Mas a gente tem “um passado empurrando o presente pro futuro”, de forma que o passado tá o tempo todo presente, não existe segmentação. E não é com isso que a psicanálise trabalha? Com a transferência e observando a relação do sujeito com os outros e com o Outro? A neurose é o feitiço voltando contra o feiticeiro. A gente tenta se proteger de uma verdade dolorosa com um pensamento mágico, mas que também gera sofrimento. Por exemplo, conquistar um objetivo leva não apenas tempo; é preciso dar corpo a ideias, nada acontece “de repente”, ninguém sente que a vida vale a pena ou não vale a pena do nada. Ideias vão crescendo, se relacionando umas com as outras e criando um ecossistema dentro de nós, como metaforizou muito bem o @rafael.trindade10. Uma ideia não acontece de repente, ela tem um passado, um Outro passado também (inconsciente).
É essa a contradição do neurótico, ele quer algo, mas recalca a espessura, pq nada pode ser mais fálico do que uma conquista sem rigor e sem esforço. 
O podcast de filosofia @arazaoinadequada está no spotify e em outras plataformas também. Gosto tanto deles que até contribuo financeiramente para que o podcast continue existindo 💙
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A questão da análise leiga – o sintoma

você também pode ver os posts anteriores desta série no blog original: https://www.inconscientereal.com.br/abc-do-inconsciente-sintoma/

ABC do Inconsciente: Sintoma. “Não podemos fugir de nós mesmos”

Após descrever o aparelho anímico, agora Freud nos fala sobre sua dinâmica, sobre as forças que se relacionam com o Eu e o Isso e como elas interagem entre si. O autor é tão didático que, para nos ajudar a acompanhar seu pensamento, usa como exemplo o que podemos facilmente observar nas crianças. Segurem um pouco essa nota, pois antes é preciso que vocês sejam apresentados ao conceito de pulsão.

O Eu e o Isso não são partes opostas, pois não se trata de colocá-los nesses termos como se eles pudessem ser localizados em nosso cérebro ou em nosso corpo. Eles seriam o que vai compor nossa experiência de corpo e de linguagem enquanto seres humanos, e é por isso também que pulsão não é sinônimo de instinto. Se somos humanos, seres de linguagem, tudo muda. Não sendo elas forças opostas, só conseguimos diferenciar as tendências mais pulsionais (Isso) das mais sociais (Eu) quando adoecemos, pois enquanto saudáveis essas partes fluem sem chamar a atenção, a vida não parece cindida.

A pulsão seria uma força proveniente do Isso (lembrem que o Isso é a parte de nós que não conhece a moral, a lei e a civilidade) e essa força, a pulsão, tem de conversar com o Eu, que por sua vez é a parte de nós em que somos habitados pela alteridade, as normas sociais e a lei, logo, a conciliação entre essas duas partes não é tarefa simples. A pulsão busca satisfação, ela quer diminuir a tensão que sua própria existência provoca. Somos dividimos justamente porque somos habitados por mais de uma influência, por isso ser humano é tão conflitante, a ponto de podermos sentir ao mesmo tempo prazer e desprazer perante uma coisa, ideia, pensamento, imagem, objeto, lembrança e tudo que é da ordem da experiência humana.

Segundo Freud, o Eu tem a tarefa de mediar as necessidades do Isso, que pressionam em busca de uma satisfação imediata, irrestrita, mas que é anti social, prejudicial a nossa própria imagem perante os outros e a sociedade, que também importam a nós.

Resumindo, o Eu refreia a busca por uma satisfação cega e fissurada do Isso, suas paixões, sendo capaz de regular as pulsões para que adiem sua satisfação ou que modifiquem os seus objetivos, negociando com ela para criar algo que a contemple ao mesmo tempo que não seja danoso ao indivíduo e a sociedade. A capacidade criativa do eu consiste em produzir modificações que possibilitam a satisfação da pulsão sem se entregar a recursos devastadores. Embora Freud não fale nesses termos, pode-se dizer que é a capacidade de ser-na-linguagem o que possibilita que não sejamos instintivos mas pulsionais e mais “flexíveis”.

Agora, sim, podemos falar da infância. Desde que nascemos vamos, aos poucos, aprendendo conscientemente que não podemos viver em busca apenas do prazer absoluto (sem considerar nada nem o outro). Viver assim seria equivalente ao que Freud nomeou “Princípio do prazer”. Felizmente temos também o “Princípio de realidade”, o qual levaria sim em consideração a alteridade, a lei e o mundo externo.

A infância seria o momento da vida no qual o Eu estaria começando a se organizar e a receber informações sobre o mundo e seu funcionamento. Freud afirma que as forças pulsionais da criança, do Isso, são naturalmente mais violentas e danosas ao meio social, cabendo aos adultos a paciência e a transmissão das vantagens de se estar no laço social. Sendo o Eu da criança mais precário, suas reações seriam mais descompensadas. Segundo Freud:
“O eu tem então essa capacidade de tomar decisões equilibradas para saber quando é melhor dominar-se e se curvar diante da realidade ou tomar partido e defender-se do mundo exterior”
No adoecimento neurótico teríamos o famoso recalque, essa espécie de tentativa de afastar o que é incômodo demais para o Eu, mas que habita o sujeito. Freud diz que no recalque o sujeito tenta fugir de algo de si próprio como se se tratasse de algo externo e não interno. É aí que o autor afirma categoricamente que “não se pode fugir de si mesmo”. Mas ele adverte: a pulsão continua dentro de nós, pois jamais esteve fora, e passa a trilhar seu próprio caminho, buscando compensação, produzindo derivados psíquicos que a representam e acabam por chegar ao Eu em forma de sintoma, de maneira estrangeira. É quando nos sentimos invadidos por algo estranho, muitas vezes sem pé nem cabeça, mas que insiste em nosso cotidiano…

Acompanham? Por não conseguirmos conciliar uma força (pulsão) dentro de nós com a realidade e tudo que nos importa nela (nossa imagem perante o outro, a lei, a moral) fazemos o sintoma, que é uma solução de compromisso entre as partes do Eu e do Isso.

É como se Freud dissesse: não existe mágica! Aquilo que tentamos ignorar retornará por outras vias e com recursos mais insolentes e inconvenientes ao Eu, mas convenientes a pulsão, e elas perseguem sua satisfação sem considerar os interesses do Eu.

Recapitulando: o Eu tem o papel de refrear as forças pulsionais, busca tornar possível que adiem sua satisfação ou modifiquem os seus objetivos, desde que se crie algo que a contemple. Isso será bem vindo desde que não seja danoso ao indivíduo e sua vida em sociedade. A capacidade criativa do Eu consiste em produzir modificações que possibilitam a satisfação da pulsão sem prejuízos devastadores para si.

Freud fala do neurótico como alguém que foge do conflito causado por diferentes influências que o habitam. O objetivo da análise, para ele, seria poder ajudar o paciente a suportar o conteúdo recalcado e encontrar maneiras mais criativas de lidar com o conflito, ao invés de tentar fugir dele. Para isso, seria necessário “fortalecer” o Eu, e a grande questão seria, o que seria fortalecer o Eu numa análise? Será que o psicanalista Jacques Lacan (uma enorme influência para nós, analistas da rede Inconsciente Real) concordaria isso?

Patrícia Andrade
Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

Bibliografia:
Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Obras Incompletas de Sigmund Freud; Editora Autêntica. A questão da análise leiga, parte III
Vocabulário de Psicanálise Laplanche e Pontalis. 2001, Martins Fontes.

Repost “Necrosuicídio”

O necrosuicídio

por Marcelo Veras @marcelofveras

Essa palavra não existe, mas foi a melhor que encontrei para isolar um pensamento que me ocorre quando chega o setembro amarelo, o mês que nos últimos anos é dedicado ao suicídio. Nos anos 90 um jovem americano de 17 anos, que tinha um mustang amarelo, pôs fim à própria vida. 

É importante que o tema seja colocado em tela. Contudo, ele exige uma reflexão mais ampla e que por vezes é deixada em segundo plano. Saliento dois pontos. O primeiro ponto é que a valorização da vida, sintagma onipresente nas campanhas de prevenção ao suicídio, deve ser dissociada da vida biológica. Somos muito mais do que um um infinito número de células, o espírito humano é muito maior do que o exíguo corpo que pretende lhe confinar. 

O que chamamos de vida está longe de ser um coração batendo. É um equívoco achar que valorizar a vida implica em negar a morte. Ao contrário, como a morte faz parte da vida, a valorização da vida inclui um morrer digno. Sim, o suicídio pode ser uma decisão quando a vida se torna insuportável, esse é o tabu que esconde o fato de que todos, incluindo eu e você, já pensamos em algum momento que essa seria uma solução para o sofrimento.

O segundo ponto é que pensar que a vida tornou-se insuportável não é necessariamente uma patologia. Se o mês de setembro deve ser o mês de reflexão sobre o suicídio – ao menos é o que as instituições públicas e privadas anunciam – não devemos colocar todo o peso do ato nas costas daquele que desistiu da vida. Para mim, setembro amarelo tem que ser igualmente o mês de reflexão sobre o mundo em que vivemos.

Campanhas de prevenção ao suicídio podem muitas vezes esquecer que o próprio estado, em certos casos, tem responsabilidade ao tornar o mundo impossível. Seria leviano ignorar situações clínicas que podem levar ao suicídio. Mas, quando jovens estão sem futuro, quando idosos estão sem presente, quando a única felicidade está no passado, é muito cômodo livrar-se da responsabilidade colocando fitinhas amarelas na lapela.

Texto excelente e sucinto.

#politicaspúblicas #saudemental #terapia #psicanalise #suicidio #setembroamarelo #psicologia

18 de maio / Dia Internacional da Luta Antimanicomial

Dezoito de maio. Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Momento oportuno para lembrar de não esquecer o que nunca deveria ter acontecido: o encarceramento da loucura como “tratamento” e a afirmação de uma lógica manicomial na própria cultura. Temos que nos fazer as perguntas possíveis e impossíveis: como podemos dar atenção ao sofrimento mental agudo sem cair nas “soluções” fáceis e rápidas, porém desumanizantes, que a-sujeitam o outro no que chamamos de “instituição total”?*

Instituições totais são aquelas que tomam conta da totalidade da vida de um indivíduo, o qual passa a viver em tempo integral numa instituição, excluído permanentemente da sociedade e de qualquer forma de laço social. Muitas vidas acaba[ra]m sendo “mal-tratadas”, encarceradas e dopadas. Essa lógica levou pessoas a adoecerem cada vez mais, esvaziando seus recursos e potências, como por exemplo: a capacidade de se movimentar, de pertencer  a algum grupo no laço social ou simplesmente sair, ver pessoas, trabalhar, estudar etc.

Todo profissional de saúde mental deve pensar numa direção de tratamento que leve em conta o comprometimento apresentado pelo paciente, mas sem deixar de estimular a produção de algum nível de pertencimento e socialização. A partir dessas premissas éticas e democráticas poderá trabalhar  para que até os pacientes considerados mais graves possam pertencer ao mundo e existir de acordo com suas possibilidades, levando em conta a singularidade de cada sujeito e de cada caso.  A instituição total, principalmente a longo prazo, é uma resolução absoluta, fechada e encerrada em si mesma. Se vidas são pessoas e pessoas estão, a priori, inseridas na sociedade, em sua lógica, em seu sistema de produção, em seus ideais e seus preconceitos, então a loucura precisa ser pensada e re-pensada diariamente para ser inserida na Pólis e não excluída dela. É com esse desafio que teremos que lidar se quisermos lutar por uma democracia antimanicomial.

O juízo que paira no imaginário social sob a imagem de um indivíduo “desajustado” é potencialmente capaz de lançá-lo como ovelhas aos lobos. Foi assim que sujeitos indesejados pela sociedade e/ou com questões de saúde mental foram isolados num mundo à parte, vivendo atrás de muros e sendo vítimas das piores tendências manifestadas pelo ser humano, como aconteceu no manicômio Pinel e Barbacena (Sobre esse tema, sugerimos os filmes: Bicho de Sete Cabeças (Lais Bodanzky, 2000) e Dá pra fazer/Si Puó Fare (Giulio Manfredonia, 2008), ambos disponíveis no Youtube)

Os manicômios foram palco de torturas, de negligência, de injustiças e da aniquilação dos sujeitos considerados desajustados… violências que agravaram seus estados através da institucionalização e da desterritorialização, calando suas existências e suas vontades. Até hoje essas vítimas encontram dificuldades para retomar suas vidas, necessitando do auxílio de  políticas públicas e enfrentando desafios para conseguir se reconectar com sua própria história e, com sorte, poder ocupar espaços que antes lhe foram negados.

Dizer não aos manicômios e sua lógica simplista não é suficiente, não é solução por si só, mas sim o primeiro passo para inventar e criar novas formas de atenção à saúde mental.

Como conviver com os “loucos” na sociedade? O que vem depois de dizer não aos manicômios?

Como diz André Nader:

“[…] O desafio vem depois. Como estar diante da loucura, relacionar-se com ela, sustentar sua radical diferença, suas crises e sua inconstância? Qualquer pessoa que trabalha nessa área sabe que, nesse ponto, saímos do campo das respostas prontas e entramos para o das invenções. Ser antimanicomial não é apenas ser contra algo, mas, fundamentalmente, ser capaz de habitar o mundo tomando responsabilidades para si: sem a proteção dos muros e sem qualquer garantia de que aquilo que funciona um dia, funcionará no próximo.
Trata-se, por consequência, de um eterno processo de construção no qual as conquistas de um dia podem ser os perigos do dia seguinte. Pois bem, a democracia se faz de uma indeterminação equivalente a essa, bem como de uma constante invenção de respostas repletas de perigos — o que nos obriga a sempre repensá-las. A democracia é, portanto, antimanicomial. Fica como desafio aprofundarmos o significado dessa fórmula, evitando que ela seja rebaixada ao rol das respostas simples, rápidas e, portanto, violentas. Que o dezoito de Maio sirva para lembrarmos de seguir adiante com essa tarefa”

*Segundo Goffman (1987), as instituições totais se caracterizam por serem estabelecimentos fechados que funcionam em regime de internação, onde um grupo relativamente numeroso de internados vive em tempo integral. A vida nessas instituições acarretaria o que Goffman chamou de mortificação, ou seja, o sujeito acaba sendo anulado nesse convívio dando espaço apenas à vida institucional.

Bibliografia:

Nader, André. O não ao manicômio: fronteiras, estratégias e perigos. Benjamin Editorial, 2019.

Nader, André. Por uma Democracia Anti-manicomial: a alteridade é incontornável, o outro existe, o mundo é de todos e não há muro que nos liberte dessa responsabilidade <https://medium.com/@andrernader/por-uma-democracia-antimanicomial-1e1fcd3f8676&gt;

Link para os filmes:

Bicho de Sete Cabeças

Si Puo Fare/Dá Pra Fazer

Como funciona a psicanálise?

Como funciona a psicanálise? Em 1926 Freud escreve “À questão da análise leiga”, texto no qual o autor defende que a psicanálise poderia ser praticada por sujeitos não médicos. Para Freud, seria necessário que aqueles interessados em aplicar análise em outras pessoas se submetessem eles próprios a análise pessoal com outro analista, fizessem formação teórica e prática em instituições psicanalíticas (cerca de dois anos de formação), supervisão clínica e troca de ideias nas associações psicanalíticas. Não ser leigo em psicanálise é o que importa para Freud, a ponto do autor admitir que lhe preocuparia mais um médico leigo em psicanálise aplicando psicanálise do que o contrário!

Ao longo do texto, Freud vai explicando qual o trabalho de um psicanalista frente a doença neurótica que ele vai comprovar ser uma “doença especial” que mereceria um “tratamento especial”, diferente das doenças tratadas pelos médicos da época, sendo necessária outra teoria e outros conceitos para tratá-la, justificando, assim,  uma outra formação e a não necessidade da formação médica!

O analista não utiliza instrumentos nem prescreve medicamentos. Utiliza apenas as palavras do paciente, que deve dizer não apenas o que ele sabe sobre si, mas também”mais do que isso”. Isso significa que o paciente deve dizer tudo que passa em sua cabeça, mesmo que pareça sem sentido, constrangedor ou desimportante. Freud fala sobre a dissuasão não fazer parte da técnica analítica, pois isso de nada adiantaria, e que, pelo contrário, devemos levar a sério a culpa de um paciente, se for o caso, se quisermos investigar o que lhe acontece. 

Diferente de um médico, a teoria usada por um psicanalista começa com o inconsciente, o aparelho psíquico. É a partir desta teoria e seus desdobramentos que um psicanalista trabalha. Ela considera que somos influenciados por partes profundas de nós mesmos e também por partes que tentam conciliar nosso eu e a realidade externa. Ou seja, somos influenciados por coisas que a gente sabe e coisas que a gente não sabe sobre nós mesmos e também coisas do mundo externo e do outro. Para Freud, a neurose é fruto de um conflito entre partes de nós que sofrem influências distintas e a neurose acontece quando algo é tão insuportável de lidar que ao invés de lidar com isso encontrando caminhos possíveis, o aparelho psíquico recalca o conteúdo como se ele não pudesse procurar outros caminhos de satisfação. 

Freud fala de uma parte de nós onde moram todas as nossas vontades, onde não existe contradições e os conteúdos apenas pulsam e demandam satisfação, enquanto existem partes de nós que tentam conciliar essas contradições com outras demandas internas (do nosso aparelho psíquico) e externas (da sociedade).

Nesse texto de 1926 Freud constrói a ideia de que o psicanalista tem o papel de acompanhar o paciente em seus pensamentos coerentes e incoerentes, inteiros ou fragmentados, organizados e desorganizados, pois neles teríamos acesso aos rastros que levariam o paciente a se aproximar de um conteúdo historicamente insuportável, com o qual ele jamais soube lidar, por isso “fugiu” e recalcou o mesmo, tendo como efeito a criação de um sintoma. É como se faltasse um diálogo aberto entre partes de nós que muitas vezes nem sabemos que nos habitam ou que nos influenciam, mas estão presentes nesse conflito entre interesses de dentro de nós, da realidade, do mundo externo e do outro. Como organizar e conciliar conteúdos distintos e de diferentes profundezas conscientes e inconscientes?

Para Freud, ao menos neste texto, o trabalho gira em torno de aproximar o paciente, em seu tempo, sem interpretações precipitadas, de um ponto do qual ele não suportaria e enveredaria pelo recalque inconsciente. Trabalhando em torno desse ponto de recalque, o paciente sairia da análise, quando bem sucedida, mais “forte”, nas palavras didáticas de Freud, ou simplesmente menos enrijecido, com mais flexibilidade para lidar com algumas questões difíceis. No fim, o psicanalista lida com a dinâmica do inconsciente (da teoria), mas também com a singularidade de cada caso. É um trabalho complexo pois nele todos os lados importam (o lado consciente e os inconscientes), por isso, a neurose causa muitos travamentos e enrijecimentos, deixando muitas vezes uma pessoa “paralisada”, “imóvel” (metaforicamente ou não). Há muito em jogo. Para isso, “palavras, palavras, palavras”… (como diz o príncipe Hamlet, citado por Freud neste mesmo texto). 

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

Referências bibliográficas

Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Obras incompletas de Sigmund Freud, editora autêntica . Tradução: Claudia Dornbusch